Do vencedor do Oscar Christopher Nolan...
O diretor deixou de ser um “visionário” para finalmente ter o maior prêmio do cinema ao lado do seu nome
Christopher Nolan venceu seu primeiro Oscar. Na verdade, saiu com duas estatuetas e só não levou a terceira para a prateleira porque Ficção Americana conseguiu estragar a festa de Oppenheimer em Roteiro Adaptado.
Maior do que o dérbi que se criou nas redes sociais e nas discussões de forma em geral, “Oppenheimer merece” x “Oppenheimer lixo”, o grande acontecimento da premiação do último domingo (10) é a marca que Nolan agora carimba em seu currículo e que vai estampar todos os seus futuros projetos: “do Vencedor do Oscar”.
O selo é a evolução do famoso “do visionário” e Nolan demorou 24 anos, desde o lançamento do aclamado Amnésia, para finalmente ter esse reconhecimento. No caminho, criou algumas das mais festejadas obras do novo milênio. Seja por críticos, mas principalmente pelos fãs, Christopher Nolan se tornou uma marca de sucesso e de qualidade na arte de criar filmes. Uma marca que carregou multidões para ver uma biografia de J. Robert Oppenheimer, pai da bomba atômica e sua escalada ao status de o homem mais importante dos EUA até a difamação por inimizades políticas.
Diretores gigantes como Steven Spielberg, por exemplo, não conseguiram o mesmo sucesso nos últimos anos. Seu The Post, por exemplo, fez um sucesso mediano. A adaptação de West Side Story, um dos maiores musicais da história, foi um fiasco.
Christopher Nolan é, como o Thiago Romariz chamou neste vídeo aqui, uma espécie de Apple do Cinema. É um selo que atesta o mínimo de qualidade, seja tecnicamente, seja em inovação, mas principalmente em experiência para quem assiste.
Para a minha geração, é o grande cineasta dos últimos anos. Goste ou não, poucos tem um currículo com tantas obras que marcaram o imaginário da sétima arte sem se envelopar em um nicho específico. Nolan, assim como Spielberg, faz cinema para ser visto por multidões. Seu Batman, e principalmente O Cavaleiro das Trevas, mesmo depois de 15 anos, ainda é exaltado como a melhor encarnação do personagem e o melhor filme baseado em quadrinhos já feito. Além disso, The Dark Knight, ditou (e ainda dita) um exemplo para outras produtores do que seria a fórmula de sucesso para filmes do gênero. Se quase todos falharam em replicar a magia da obra-prima de Nolan é porque eles não têm o tempero principal: a experiência Nolan.
Rei do clímax e da conclusão, o diretor joga os espectadores em um verdadeiro vai e vem emocional em suas obras ao longo dos três atos. Mas é na hora da entrega final, do corte para a tela preta com o nome do filme, que ele encanta e deixa a grande maioria extasiada ao longo dos créditos e na saída das salas de cinema. É assim com o monólogo de Gordon, em O Cavaleiro das Trevas, da conclusão da missão e o retorno para casa de Cobb, em A Origem, da conversa de Cooper e Murphy e a escapada final dele, em Interestelar, os finais de O Grande Truque e Tenet... e por aí vai.
Em Oppenheimer, Nolan extrapola essa fórmula de clímax para os outros atos da história. A dinâmica montagem de Jennifer Lame, também vencedora do Oscar, é fator primordial para o sucesso do entrelaçado de narrativas do filme. Os questionamentos de Oppie e a maçã envenenada, as acusações de Strauss e quem será o cientista misterioso que vai falar na comissão, a construção do teste Trinity, a sabatina com o cientista e seus companheiros... tudo funciona como uma série de elementos desse esquema de bomba relógio, sem trocadilho, que é marca registrada do diretor.
Nem tudo são flores. Há o excesso de explicação, as breguices e a frieza com que ele trata momentos que deveriam ser emotivos. Os detratores do diretor se agarram nisso para desmerecer seu trabalho. Já os fãs ignoram e fingem não ver que novelões (no melhor sentido da expressão) dele como Oppenheimer, Interestelar e O Cavaleiro das Trevas Ressurge são lotados de momentos cafonas e escolhas narrativas ruins: o cientista vestindo seu uniforme de chapéu e cachimbo, toda a parte do astronauta vivido por Matt Damon e a história de Thalia al Ghul, respectivamente. Isso para citar apenas um de cada.
Apontado como frio e antipático, é na paixão pelo cinema que Christopher Nolan mostra seu lado mais humano. Aficcionado pela película, pelo Imax e pelas inventividades em construir cenários e efeitos práticos, o diretor é uma criança que recebe todos os presentinhos dos estúdios e, como poucos, tem uma liberdade criativa invejável dentro do espaço cada vez mais controlado pelos executivos de Hollywood.
Essa liberdade é explicada em números. São mais de US$ 6 bilhões arrecadados nas bilheterias. Tenet, mesmo no meio da pandemia da COVID-19 conseguiu mais de US$ 360 milhões no mundo todo. Nolan tem a força dos grandes astros de Hollywood e isso já está mais do que comprovado. Ao romper com a Warner Bros., ganhou, de novo, carta branca. Agora, com a Universal.
O resto é história. Oppenheimer perdeu a batalha de bilheterias para Barbie, mas consagrou Christopher Nolan na maior noite do cinema.
Se eu não sou o maior fã de Oppenheimer, mesmo achando um bom filme, não posso dizer o mesmo do diretor em si. Sempre haverá a comparação com nomes como Hitchcock ou Kubrick, que mesmo na prateleira de gênios, nunca venceram o Oscar. Mas isso não tira o mérito do que Nolan fez e ainda vai continuar fazendo pela sétima arte. Em seu discurso ao receber o prêmio, lembrou que o Cinema tem pouco mais de 100 anos, está em um processo de mudança e que se sentia grato por ser lembrado como parte significativa dele.
E não errou. Se o cinema tem mais de 100 anos, nos últimos 24, um dos grandes nomes é sem dúvida nenhuma o de Christopher Nolan. E eu, como alguém que viu quase todos os filmes dele na telona, mesmo não gostando de todos, fico feliz por ele ser “do vencedor do Oscar Christopher Nolan” a partir de agora.