Nem com muito Aleluia (+ algumas Rapidinhas)
Rebel Moon – Parte 1 chega ao streaming essa semana reverberando o pior de Zack Snyder.
Zack Snyder tem pinta de rockstar. E pensando bem, ele é o Chad Kroeger do cinema americano. Demonizado pela crítica especializada, chamado de brega, fanfarrão e de “um dos piores”, continua arrastando legião de fãs por onde passa.
Já vi isso ao vivo, seja com o diretor na CCXP, em São Paulo no início de dezembro, seja em shows do Nickelback no Brasil e aqui no Canadá.
Não vou negar e nunca neguei que eu gosto do Zack Snyder (assim como sempre gostei da banda). Ele é um cara que fala com muita paixão pelos seus projetos, parece ter o carinho de quem trabalha ao lado dele e, de novo, criou uma base de fãs apaixonada por seus trabalhos – não vamos entrar no mérito da toxicidade.
Das produções dele, Madrugada dos Mortos, 300, Watchmen e Homem de Aço são os meus favoritos. A própria versão/corte para Liga da Justiça é interessante e mostra que, goste ou não, Snyder tinha uma visão própria daqueles Deuses entre nós Humanos.
Entretanto, o novo filme do diretor, assim como os últimos trabalhos de Kroeger e banda, reverberam o que há de pior na filmografia dele.
Rebel Moon – Parte 1: A Menina do Fogo é o pior trabalho de Zack Snyder.
O diretor nunca escondeu sua vontade de fazer um Star Wars. Há informações que ele chegou a apresentar uma ideia de roteiro para a Lucasfilm, mas que o projeto foi negado por lá. Com a parceria entre Snyder e a Netflix, que começou com o ok Army of the Dead: Invasão em Las Vegas, esse projeto-sonho do diretor saiu do papel.
Um dos problemas de Rebel Moon – Parte 1 é que o filme nunca parece algo apenas inspirado em Star Wars. É uma fanfic em que o autor se utiliza apenas da iconografia do material original, sem nunca entender o que realmente faz dele algo mágico.
Acompanhamos Kora (Sofia Boutella), uma jovem com um passado misterioso, que vive em uma comunidade rural pacificamente até que o local é atacado pelas forças imper..., pelas forças do tirânico Belisarius (Ed Skrein). A jovem então parte em uma missão de juntar um grupo de rebeldes, entre eles um ex-general (Djimon Hounsou), um piloto de uma nave que faz transportes de mercadorias (Charlie Hunnam) e mais uns outros, para que eles possam enfrentar os opressores.
Se você achou parecido com uma galáxia tão, tão distante, acredite: não para por aí. Belisarius utiliza uniforme com aspectos nazistas e tem questões “mecânicas” com o corpo, por exemplo. O grupo conta com Nemesis (Bae Doona), uma guerreira com espadas reluzentes. Kora encontra Kai (Hunnam) em uma cantina onde rapidamente um outro ser tenta criar problema com ela e acabam em uma briga. Pois é.
Não que Star Wars tenha criado tudo do zero. Não criou. George Lucas sempre deixou claro suas inspirações e símbolos. Agora, copiar mais de uma cena só mudando o nome de personagens ou locais?
Mas até aí, vá lá.
O grande problema de Rebel Moon – Parte 1 é toda a falta de uma estrutura coesa para contar a história. É uma jornada de herói simples, com a heroína saindo de casa para cumprir uma missão e voltar com o “elixir”, como descrevia Campbell, para seu vilarejo.
O problema é que Zack Snyder se perde em todos os seus maneirismos visuais e não tem uma história para contar em duas horas. As viagens de planeta para planeta e o chamado de cada um dos membros da aliança rebelde (ops...) acontece sem mais nem menos, com uma facilidade que beira o infantil. As dificuldades estão em alguma criatura que cada um deles tem que enfrentar, mas que não tem nada a ver com a missão em si.
O cúmulo é a cena de apresentação da Nemesis, em que Snyder corta da nave chegando no local para os personagens já com guerreira, descendo por um elevador. É estranho, como se um pedaço do filme tivesse sido simplesmente deletado dali.
A montagem de Rebel Moon – Parte 1 é uma bagunça total. Na tentativa de fazer dessa uma versão mais light da história, diversas lutas e cenas de ação são editadas para que a violência suma da história. É bizarro ver enquadramentos simplesmente cropados com zoom para que o sangue não apareça. Elementos cênicos ficam de fora da imagem, incluindo aí parte do rosto do personagem principal da cena. Isso vindo de um autor tão preocupado com visual como Snyder sempre foi, é ao mesmo tempo curioso e decepcionante.
Se Star Wars é contado a partir do descobrimento e do encantamento de Luke/espectador, Rebel Moon é contado sob o ponto de vista da violência, da guerra e dos traumas de Kora. Tirar esse elemento para justificar que há uma versão Snyder Cut do filme, algo que Snyder já está dizendo por aí, é um erro artístico, um erro de marketing e, principalmente, uma falta de respeito com o fã do diretor que vai perder duas horas assistindo algo inacabado.
Como pode Zack Snyder dizer que existe uma versão “completamente diferente do filme” de um “universo diferente” se desde o início Rebel Moon foi vendido como um projeto de total liberdade criativa do diretor.
A Menina do Fogo não tem o melhor visual, não tem bons personagens, não tem uma história interessante e não tem originalidade. Nem o slow-motion, marca registrada de Snyder, consegue produzir bons momentos. São apenas enfadonhos e repetitivos.
O Snyder Cut de Rebel Moon pode realmente ser melhor, até porque pior não parece possível, mas dessa vez não há desculpa como foi com Liga da Justiça e a nova versão já nascerá como um grande selo de otário para os fãs de Zack Snyder.
Rapidinhas:
Wonka
Eu adoro o trabalho de Paul King nos dois Paddington. Filmes que abraçam o lado lúdico e nunca desafiam a inteligência, seja do público infantil ou do adulto. O diretor faz o mesmo com Wonka, filme que funciona como um prequel de A Fantástica Fábrica de Chocolate e tem Timothée Chalamet no papel do icônico chcolateiro.
E olha, vou ter que confessar: não estava esperando nada do filme e acabei encantado no cinema. Chalamet é o Wonka perfeito se pensarmos que no futuro ele vai perder um pouco do encantamento com o mundo e virar o recluso Gene Wilder do filme de 1971.
As músicas, mesmo não marcantes, são excelentes e o elenco segura muito bem o musical. Sem falar que Hugh Grant de Oompa Loompa talvez seja a maior surpresa do ano.
The Holdovers
Vi o trailer do novo filme de Alexander Payne e fiquei pensando: hmmm mais um filme que tenta passar essa vibe “hipster” de produção antiga, Paul Giamatti fazendo o mesmo tipo de novo... Eu não poderia estar mais enganado.
The Holdovers acabou virando um dos meus filmes favoritos do ano.
A história de um professor, um aluno e a chefe de cozinha de uma escola tradicional para meninos, que não tem ou não podem sair de lá para passar as festas de fim de ano com os familiares é simplesmente incrível. Eu poderia ficar horas e horas acompanhando os três personagens, interpretados por Giamatti, Dominic Sessa e Da’Vine Joy Randolph, respectivamente.
Uma história clássica de amadurecimento, com um roteiro afiado, direção precisa e muito carisma dos protagonistas.
The Royal Hotel
Não dá para negar que The Royal Hotel, novo filme de Kitty Green, me decepcionou. Não que seja ruim. Não é mesmo. É bem filmado e tem mais uma ótima atuação da incrível Julia Garner.
Mas falta o impacto narrativo de A Assistente, especialmente no terço final. Aliás, vejam A Assistente, um dos maiores ignorados em premiações dos últimos anos.
Crescendo Juntas
Adorável é o elogio mais perfeito para Are You There God? It's Me, Margaret (ou Crescendo Juntas). Em toda sua simplicidade, esse coming of age que tem tanto a dizer, utiliza a talentosíssima Abby Ryder Fortson, que foi a Cassie Lang do primeiro Homem Formiga, de forma brilhante e ganha um selo de TEM QUE ASSISTIR! Rachel McAdams está ótima também.
Are you there God… faria uma ótima sessão dupla com Eighth Grade, do Bo Burnham.
Eu não sabia nada do filme e fui surpreendido com Benny Safdie e Kathy Bates no elenco. Mas a maior delas veio no fim com o crédito de trilha para Hans Zimmer!
Jogos Mortais 10
E, para finalizar, um dos piores filmes do ano. Não acredito como conseguiram chamar de melhor ou um dos melhores da série. O filme erra em tudo. No beabá do gênero, tirando a sensação de medo ou de mistério para apenas torture porn feito com cara de novela da Record.
E ainda tem aquele final que MEU DEUS do céu. Na espera pelo próximo que talvez seja:
Jogos Mortais 11 - Pare! Senão Vovô te Mata
Jogos Mortais 11 - Meu Vovô é Mortal